Cresce no Brasil a procura pelo selo de "prédio verde"

Seja modismo, apelo de marketing, exigência da matriz, economia de custos ou real preocupação com o planeta e o ambiente - ou preferencialmente pela soma de todas essas razões - a sustentabilidade começa a avançar na cadeia da construção civil. Os desafios ainda são muitos. Existem prédios mais verdes que outros - a tipologia dos selos é como cartão de crédito: prata, ouro e platina - e uma distância considerável ainda separa o discurso da prática, mas a preocupação com o tema dá sinais evidentes de consistência e a discussão tende a amadurecer.

A procura pela certificação de prédios verdes, considerados os ativos do futuro, explodiu nos últimos dois anos - o volume de empreendimentos em fase de auditoria subiu mais de 300% e o de certificados emitidos triplicou. De acordo com a ONG Green Building Council Brasil , que concede a certificação americana Leed  - e que atua em 117 países - em 2007 havia 48 projetos em fase de certificação, no ano passado foram 104 e este ano deve terminar perto de 200. Mas certificados mesmo são apenas 11 prédios no Brasil - o que já é um grande avanço. Em 2008, eram 4. Como os processos são longos e exigem uma série de auditorias, essa diferença é normal. No mundo todo, existem 3.818 empreendimentos certificados e 29.229 em processo de certificação. Para 2010, a previsão é que o Brasil chegue a 25 certificados.

A Fundação Vanzolini , que escolheu a metodologia francesa para fazer a sua certificação, tem 15 contratos em andamento e 7 certificados emitidos. Apenas um, no entanto, a loja da Leroy Merlin em Niterói (RJ), passou pelas 3 etapas que envolvem a certificação - programa (anterior ao projeto), concepção e realização. Há cinco projetos com certificado da primeira fase e dois perto de obter a segunda. Há uma avaliação em 14 categorias, que podem ser avaliadas entre boa, superior ou excelente.

A ONG Green Building Council e a Fundação Vanzolini são as únicas duas certificadoras brasileiras de prédios verdes. As metodologias são diferentes e a obtenção de qualquer nível de um dos dois dos selos já é um enorme avanço em relação às construções tradicionais e indica cuidado e preocupação com o ambiente. Mas, há sempre um adendo quando se fala em certificação de prédios verdes. Praticamente nenhum prédio brasileiro tem o grau mais completo.

A certificação Leed, por exemplo, tem os níveis básico, prata, ouro e platina e pode certificar uma construção nova, uma construção antiga (a mais difícil de ser obtida, sem nenhum certificado emitido no país até agora) ou a área interna de um edifício comercial (um único escritório, por exemplo). E a modalidade mais comum até agora, para prédios novos que serão vendidos ou alugados para vários usuários, que certifica áreas comuns, fachada e internamente e o sistema de ar-condicionado e elevadores, sem os acabamentos. "Nesse caso, não dá para certificar mobiliário, forro e revestimento, porque cada usuário faz no seu padrão", afirma Marcos Casado, gerente técnico do Green Building Council.

Das 11 certificações Leed, há uma única platinum - obtida pelo edifício de escritórios Eldorado Business Tower - mas refere-se à certificação que abrange áreas comuns, fachada, elevadores e ar-condicionado. Nessa mesma categoria, com o selo gold estão os prédios Rochaverá Corporate Towers e o Ventura, no Rio de Janeiro, ambos da americana Tishman Speyer. Hoje, no Brasil, há apenas duas certificações para novas construções, sendo edifícios verdes planejados desde o início - ambas na categoria prata, a agência do Banco Real na Granja Viana e unidade do laboratório Delboni Auriemo no bairro paulista de Santana (ambos em São Paulo). "O mercado ainda não reconhece essas diferenças, mas a ideia é que isso aconteça no futuro", afirma Casado, do IBGC Brasil.

Cada certificação tem o seu procedimento e a falta de padronização entre as diferentes metodologias é mundial. A questão é tão importante que foi considerada prioritária entre o grupo de discussão que está redigindo o documento sobre o futuro da construção sustentável que será apresentado no World Economic Forum, em Davos. "A ideia é fazer a soma de cada certificadora e chegar a um padrão único", afirma Juan Quirós, presidente do grupo Advento e único representante brasileiro do grupo. "Isso vai promover um intercâmbio de tecnologia, mas para atingir um patamar uniforme pode levar entre cinco anos e 15 anos, porque os países estão em estágios muito diferentes", diz.

No Brasil, segundo Quirós, o tema está evoluindo rapidamente, mas há questões pendentes, como o fornecimento de matérias-primas sustentáveis. Alguns materiais, como tintas e vidros, já começam a ser feitos num padrão novo para atender a esse mercado. "O Brasil está bem na parte de energia solar, sistemas de ar-condicionado e na questão do uso racional da água tem condições de se igualar aos principais países, mas ainda precisar importar uma grande variedade de materiais sustentáveis", pondera. Na opinião do empresário, é questão de tempo para que a cadeia de fornecimento atenda aos padrões internacionais de sustentabilidade.

Embora o apelo "verde" tenha cada vez mais peso, a questão econômica ainda é muito relevante. Em média, um prédio verde pode custar até 12% mais caro, mas garante um custo operacional entre 12% e 15% menor. Por conta da economia com energia e água, a manutenção do empreendimento fica mais barata. Na hora de alugar, por exemplo, o custo do condomínio passa a ser um diferencial. "A empresa quer saber quanto vai gastar e de quanto será o retorno, a análise econômica nunca vai deixar de existir", afirma Manuel Carlos Reis Martins, professor da Poli USP e responsável pela certificação dada pela Fundação Vanzolini. "A expectativa é que um empreendimento sustentável tenha uma valorização patrimonial maior."

Cadeia produtiva do setor é responsável por 30% do CO2 despejado na atmosfera

Um grupo de 12 empresários de vários países reuniu-se há menos de um mês para discutir o futuro da construção sustentável no mundo. A partir dessas conversas iniciais, irão preparar um documento que será apresentado no World Economic Fórum, em Davos. Será uma recomendação aos governos de todo o mundo de um projeto unificado para a construção civil, atividade que emite, em todos os elos da cadeia, 30% do CO2 despejado na atmosfera.

O grupo reuniu representantes dos Estados Unidos, Austrália, China, Índia, Reino Unido, Alemanha, França, Finlândia, Suíça e África do Sul . O Brasil foi representado por Juan Quirós, presidente do grupo Advento, que possui a construtora Serpal, e atua na construção de fábricas, hospitais e shoppings.

Em entrevista ao Valor, Quirós conta que o debate partiu do pressuposto de que a construção civil não pode estar desligada da infraestrutura. "O ciclo de desenvolvimento e respeito ao meio ambiente é uma coisa só", afirma. Uma das grandes preocupações do grupo é eliminar desperdícios, um problema sério do setor. O objetivo é que, no longo prazo, se use materiais seguros, saudáveis e recicláveis, com energia 100% renovável e água reutilizável. Para isso, os governos devem cria leis e dar incentivos aos projetos e materiais que apliquem inovações tecnológicas. "Já existem materiais em estudo que contém ingredientes biológicos e podem retornar ao solo de maneira segura e produtiva", afirma.

Num futuro próximo, os financiamentos bancários para empreendimentos verdes, por exemplo, devem ser mais vantajosos em relação aos prédios construídos da forma tradicional.

E a solução para produtos usados na construção, como a areia, por exemplo, que é retirada do ambiente? A ideia é que haja até "areia certificada". De acordo com as primeiras discussões, a areia captada a até 800 quilômetros da área de construção está dentro dos padrões aceitáveis, porque a emissão de carbono gerada pode ser neutralizada quando o prédio estiver pronto. Além dessa distância, começam a ter penalidades.

Quando se fala em construção verde, os números são superlativos. Estima-se que o mercado de prédios comerciais e residenciais e infraestrutura estejam avaliados entre US$ 36 bilhões e US$ 49 bilhões. A expectativa é de que até 2013 esse valor chegue a US$ 140 bilhões. 

 

Fonte: Valor Econômico

 

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