Fuga de energia

Defeitos imperceptíveis ou gambiarras no sistema elétrico são perigosos e impactam a conta de luz

Fique atento se o relógio de força girar com tudo desligado

 

A conta de luz ficou mais cara de uma hora para outra? Assim como a água

vaza dos canos, a energia pode escapar das instalações elétricas e gerar um

consumo inesperado. Chamada de fuga de corrente elétrica, a anomalia

geralmente é causada por problemas de isolamento na fiação, uso inadequado

de tomadas, fim da vida útil de algum cabo ou defeito em aparelhos

elétricos. Em todos os casos, a energia passa a ser consumida

desnecessariamente porque o condutor encosta em algum material metálico.

Mais que impactar o bolso do consumidor, a fuga de corrente elétrica pode

provocar prejuízos graves, entre eles choques, curtos-circuitos e até

incêndios.

O engenheiro eletricista Sérgio Mourthé, gerente de Relacionamento

Comercial com Clientes da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig),

alerta que hábitos aparentemente inofensivos podem deteriorar aos poucos o

isolamento dos fios. Ligar um equipamento que consome grande quantidade de

energia, como o ar-condicionado, em uma tomada comum vai sobrecarregar as

instalações elétricas, assim como o uso do famoso “T”. “Na maioria das

vezes, a gente usa a peça para multiplicar a capacidade da tomada, que é

projetada para determinada carga. Se você começa a ligar vários

equipamentos e deixa que eles funcionem simultaneamente, vai gerar

aquecimento do cabo e criar um ponto de fuga”, explica.

O que também contribui para a fuga de corrente elétrica é a mania de

emendar fios com esparadrapo e fita crepe, materiais que não têm capacidade

perfeita de isolamento. Se o condutor estiver com emenda malfeita e

encostar num material metálico, que pode ser um parafuso ou a própria

tubulação, a energia elétrica começa a escapar pelo caminho mais fácil. “A

energia elétrica é esperta e preguiçosa, pois sempre procura o melhor

caminho possível para chegar à terra. Então, começa a passar por qualquer

brecha que encontre, em vez de passar por onde deveria, que é o fio”,

analisa Mourthé. “Isso gera fugas e, consequentemente, uma conta mais cara.”

O engenheiro eletricista João Carlos Lima sugere um teste seguro para

confirmar se há fuga de corrente elétrica em casa. Desligue todas as chaves

do quadro de distribuição e dirija-se ao relógio de luz. É preciso aguardar

pelo menos 10 minutos para ver se o disco continua a rodar. Em caso

afirmativo, a anomalia está entre a medição e a distribuição interna da

residência. Em outro momento, faça o mesmo teste tirando todos os aparelhos

da tomada. Se o relógio não parar de funcionar, é sinal de que a fuga vem

de algum circuito elétrico da casa. O importante é consertar logo o

defeito, porque a concessionária não vai deixar de cobrar pelo consumo de

energia, mesmo desnecessário.

Prejuízo

"Desperdício de 0,1 ampere, 24 horas por dia, chega a 9,14kw/h no fim do

mês e a R$ 66,90 ao ano" - João Carlos Lima, engenheiro eletricista O

consumo de energia gerado pela fuga de corrente elétrica refletelentamente

na conta de luz, o que dificulta a identificação do problema. Considerando

um desperdício mínimo de 0,1 ampere, 24 horas por dia, o engenheiro

eletricista João Carlos Lima, professor do Centro de Capacitação em

Tecnologia da Loja Elétrica, calcula que no fim do mês haverá um aumento de

9,14 kw/h. Para o consumidor, isso significa pagar R$ 66,90 a mais por ano.

Quanto maior o tempo de uso de um equipamento, maior a probabilidade de um

componente interno chegar ao fim da vida útil e gerar fugas silenciosas de

corrente elétrica. Como lembra o diretor técnico e industrial da Clamper,

empresa que produz e comercializa produtos elétricos,Wagner Almeida

Barbosa, as pessoas costumavam tomar choque ao abrir geladeiras antigas,

principalmente quando estavam descalças. Diante de um circuito elétrico mal

isolado, o corpo humano se torna um caminho alternativo para a corrente.

Perigosos também são os chuveiros elétricos com carcaça metálica. Não é

comum tomar choque em aparelhos novos, mas eles podem vir com defeito de

fábrica e apresentar problema de isolamento.

Se a parede deu choque, principalmente em época de chuva, é provável que a

energia tenha escapado da fiação. Como a umidade facilita a condução da

corrente elétrica, pode haver problemas em áreas molhadas, como banheiro e

cozinha. O militar Fernando Antônio de Souza Tristão não podia encostar nas

torneiras de casa que tomava choque. Com a ajuda de um profissional, ele

descobriu que a falha vinha da casa do vizinho. “Sofria as consequências de

um curto-circuito. Tinha um fio encostando no outro em um ponto de luz

debaixo da escada dele”, conta.

Como demora para dar sinal de alerta, a fuga de corrente elétrica pode

provocar sérios danos. “Em algum momento, as falhas de isolamento que o

proprietário não enxerga podem ser tornar perigosas. O resultado vai ser

curto-circuito seguido de incêndio, com força máxima em termos de

destruição”, pontua Wagner Barbosa. Ele destaca que 90% dos incêndios são

provocados por falha elétrica. O encontro de um cabo sem isolamento com

qualquer material metálico gera um consumo de energia intenso e, em

consequência, aquecimento. Se não houver a devida dissipação de calor, a

fiação pode derreter a ponto de produzir fogo.

Evite choques elétricos

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) exige instalação de

equipamentos de segurança nos quadros de distribuição de locais onde água e

energia estão juntos.

Manter as instalações elétricas em perfeito estado impede que haja

desperdício de energia, mas como a fuga de corrente elétrica não avisa

quando vai surgir, o melhor é se proteger contra choques. A medida mais

eficiente para evitar o susto é instalar o interruptor diferencial residual

(IDR) no quadro de distribuição. O item que dá segurança ao consumidor, é

de uso obrigatório desde 1997, segundo determinação da Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Júlio Fonseca, da Green Gold, diz que o choque pela mão esquerda,

que passa pelo coração, pode provocar parada cardíaca De

acordo com o diretor de Engenharia da empresa de engenharia de projetos

Green Gold, Júlio Fonseca, o IDR passa todo o tempo fazendo a leitura do

circuito elétrico. Por menor que seja, a anomalia é identificada e, caso

alguém encoste no aparelho alvo do problema, o dispositivo automaticamente

desliga a instalação. A pessoa pode sentir um leve choque, mas nada que

coloque sua vida em risco. “A preocupação é com o tempo em que dura o

choque, que pode ser fatal. Se você tiver contato com a corrente elétrica

pela mão esquerda, ela vai passar pelo coração e pode provocar parada

cardíaca”, destaca.

Em áreas molhadas, o IDR torna-se ainda mais indispensável. “O dispositivo

é importante para o banheiro, por causa do chuveiro elétrico, para a

cozinha, já que a pessoa liga eletrodomésticos na tomada até com a mão

molhada, e na área de serviço”, esclarece o engenheiro eletricista João

Carlos Lima, professor do Centro de Capacitação em Tecnologia da Loja

Elétrica. Em caso de fuga de corrente elétrica, o consumidor está

totalmente protegido contra um choque mais perigoso.

A norma da ABNT exige que o IDR seja instalado tanto no interior da

residência quanto em áreas externas. Fonseca diz que é necessário proteger,

por exemplo, o circuito elétrico que alimenta as luminárias de jardim para

evitar choque caso um fio esteja mal isolado. Desde que virou regra, a

instalação do dispositivo é sempre prevista pelo projetista em novas obras.

Na hora de comprar um imóvel, deve-se conferir se as instalações elétricas

estão bem protegidas. “Era comum o eletricista não conseguir fazer a

distribuição correta da corrente e dizer que o dispositivo atrapalhava a

instalação, mas na boa prática da engenharia o IDR já é usado há muito

tempo”, relembra o diretor da Green Gold. Em construções mais antigas, a

recomendação é procurar um profissional para instalar o dispositivo.

Além de proteger os moradores contra choque, o IDR consegue indicar que há

algum problema nas instalações elétricas. Isso porque, caso seja

identificada uma anomalia, o circuito desliga imediatamente e só volta a

funcionar da forma correta se a questão for resolvida. “Se a pessoa compra

um apartamento novo com IDR e percebe que a chave está desligando sozinha,

pode saber que tem uma fuga impedindo o funcionamento do circuito

elétrico”, ensina o engenheiro eletricista João Carlos Lima.

Fonte: Estado de Minas

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