Hidrelétricas podem ajudar a combater as mudanças climáticas

O Brasil é conhecido mundialmente por sua matriz elétrica limpa, na
qual predominam as hidrelétricas. Agora o país ganhou um forte
argumento na defesa da fonte hídrica: além de as usinas gerarem uma
energia limpa, confiável e barata, seus reservatórios, em alguns
casos, ajudam a reduzir os níveis de gases de efeito estufa (GEE) na
atmosfera.
Essas e outras conclusões são apresentadas no livro "Emissões de Gases
de Efeito Estufa em Reservatórios de Centrais Hidrelétricas" (baixe
aqui), que consolida os resultados do estudo Balanço de Carbono em
Reservatórios (Balcar), projeto de pesquisa e desenvolvimento
apresentado pela Eletrobras Eletronorte, em parceria com outras duas
empresas Eletrobras - Chesf e Furnas -, em resposta à chamada nº
009/2008 da Aneel, em 2009, e que teve suas atividades de campo
realizadas entre 2011 e o fim de 2013.
No projeto, foram pesquisadas oito usinas hidrelétricas em operação e
as áreas dos futuros reservatórios de outras três usinas, em diversos
biomas brasileiros. Os resultados mostram que Funil, na Região
Sudeste, e Xingó, na Região Nordeste, registraram taxas negativas de
emissão de gases, ou seja, seus reservatórios absorvem GEE da
atmosfera.
Coube ao Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Eletrobras Cepel) a
coordenação técnica do estudo, ficando sua execução a cargo de dez
renomadas instituições de pesquisa do país: Coppe/UFRJ, Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais, Universidade Federal de Juiz de Fora,
Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Pará, Instituto
Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental, Universidade
Federal do Paraná, Universidade Federal Rural da Amazônia,
Universidade Federal Fluminense e Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, o que envolveu 108 pesquisadores, sendo 49 doutores e 31
mestres.
A pesquisa inovou ao utilizar o conceito de emissão líquida de gases.
A maioria das pesquisas do gênero se baseia apenas na emissão bruta,
ou seja, na medição da atual emissão nos reservatórios. Já o Projeto
Balcar mensurou também as emissões líquidas nos reservatórios. O
conceito consiste em subtrair as emissões ou remoções que já existiam
antes da construção do reservatório das emissões atuais, visando
conhecer o montante das emissões (ou remoções) que são efetivamente de
responsabilidade das hidrelétricas. Foram levantados três cenários,
usando recursos como fotos de satélite da época anterior à criação do
reservatório: "Floresta Neutra", ou seja, antes do reservatório o meio
ambiente naquela área não emitia gases de efeito estufa; "Floresta
Remoção", quando havia captura de carbono pelo meio ambiente; e
"Floresta Emissão", quando gases já eram emitidos sem intervenção
humana.
Sumidouros
Os resultados foram esclarecedores: nos três cenários o reservatório
da usina hidrelétrica Xingó, na Bacia do Rio São Francisco, absorve
0,56 gCO2e/kWh (gramas de dióxido de carbono equivalente a cada
quilowatt-hora de energia produzido na usina). O mesmo ocorre em
Funil, na Bacia do Rio Paraíba do Sul, com menor nível de emissão de
GEE atualmente do que antes da construção do reservatório. A taxa de
emissão de dióxido de carbono equivalente no local, descontando o que
o ecossistema já emitia antes do alagamento, fica negativa em 1,35
gCO2e/kWh. Os pesquisadores fizeram 44 levantamentos de campo em 11
aproveitamentos hidrelétricos no Brasil, oito em operação (UHEs
Balbina, Itaipu, Tucuruí, Serra da Mesa, Xingó, Três Marias, Funil e
Segredo) e três em construção (UHEs Santo Antonio, Belo Monte e
Batalha).
À exceção da usina Balbina, mesmo as hidrelétricas que emitem dióxido
de carbono o fazem numa proporção bem menor do que uma usina térmica
equivalente alimentada a gás natural (412 gCO2e/kWh) ou a carvão
mineral (900 gCO2e/kWh). Tucuruí, por exemplo, emite 34 gCO2e/kWh no
cenário "Floresta Neutra", 52,4 gCO2e/kWh no cenário "Floresta
Remoção" e 7,07 gCO2e/kWh no cenário "Floresta Emissão". Já Itaipu,
segunda maior hidrelétrica do mundo, emite 1,97 gCO2e/kWh em "Floresta
Neutra", 4,01 gCO2e/kWh em "Floresta Remoção" e é um sumidouro no
cenário "Floresta Emissão", absorvendo 1,02 gCO2e/kWh.
Fonte: Infoenergia - SP

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