Missão cumprida: arquiteta mineira constrói edifício verde em BH

Em tempos de falta de água e alta de energia, pode-se dizer que um dos
imóveis vagos mais disputados de Belo Horizonte está na Rua Grão
Mogol. O edifício comercial, disponível para aluguel desde o
fechamento da loja de decoração Tetum, recebeu em novembro a
certificação internacional LEED, considerado o principal selo verde do
mundo. A arquiteta Eduarda Corrêa, responsável pelo projeto, se
orgulha de deixar um presente para a cidade. "Que o prédio sirva de
inspiração para que outros empresários e arquitetos façam construções
sustentáveis, não pensando apenas na natureza, porque sustentabilidade
engloba muito mais do que parece", defende.
O ponto de partida para a concepção de um edifício sustentável foi a
decisão de preservar três árvores do terreno com mais de 30 anos, duas
sibipirunas e um ipê-amarelo. "Não fiz essa escolha só por motivo
técnico, mas também emocional. Sempre tive uma ligação muito forte com
a natureza. Cresci numa casa com muito jardim, vivi numa fazenda por
muito tempo e minha família tem um carinho com plantas. Todos amam o
verde", justifica a arquiteta. Sem querer, ela já tinha incluído
outros princípios de sustentabilidade no anteprojeto, como o uso de
estrutura metálica, que deixa a obra mais limpa.
Com a ajuda da empresa de consultoria EcoConstruct, Eduarda
desenvolveu um projeto totalmente sustentável. Do início da obra até o
funcionamento do prédio, era preciso seguir regras para obter a
certificação. "A sustentabilidade vai muito além do ecologicamente
correto. Pensa-se não só no meio ambiente, mas no social. É preciso
respeitar a natureza, a cidade e as pessoas que trabalham naquela
obra", explica. Uma das exigências é não fumar no edifício. Além de
fazer mal para o próprio fumante e seus colegas, a fumaça do cigarro
impregna de tal forma na estrutura que contamina a edificação. A
arquiteta conta que muitos operários que participaram da construção
pararam de fumar.
Mais que modismo, Eduarda percebe que a sustentabilidade passou a ser
necessidade. "No começo, segui o conceito mais por ideologia, mas em
pouco tempo pude vivenciar o quanto isso é necessário. Manter um
espaço comercial daquele tamanho seria caro se ele não fosse
sustentável", avalia.
EFICIÊNCIA Muito antes de começar a crise hídrica, a arquiteta já
planejava incluir no projeto uma caixa de captação de água de chuva,
com o objetivo de fazer a irrigação no jardim, encher as descargas e
lavar áreas externas. Sem saber que o Brasil sofreria com a alta de
energia, Eduarda estudou estratégias para evitar o uso de meios
mecânicos de refrigeração. A solução foi investir em telhas
termoacústicas revestidas com uma tinta especial que dissipa os raios
solares, impedindo que o calor fique armazenado no ambiente. Além
disso, recorreu a muito vidro para valorizar a iluminação natural e
instalou lâmpadas com alta eficiência energética, principalmente as de
LED.
Eduarda adianta que está para ser fechado o contrato de aluguel com
uma das muitas empresas interessadas em se instalar no edifício da Rua
Grão Mogol. Um dos motivos que justifica a alta procura é justamente a
questão da sustentabilidade. "A Tetum fechou as portas em dezembro,
mas o empreendimento continua com o compromisso de manter as boas
práticas. Uma das cláusulas do contrato é seguir toda a linha
estabelecida pelo LEED, o que é muito interessante para o próprio
locatário, que tem isso como um cartão de visita", pondera. A escolha
do inquilino, inclusive, se baseia em quem vai respeitar mais a
construção verde, que virou ponto de visitação dos curiosos.
Desde então, Eduarda não teve oportunidade de projetar outra
construção sustentável, mas ela mantém a esperança de ver mais
empresários e arquitetos envolvidos com a causa. "As pessoas ainda não
têm consciência da grandiosidade de um projeto sustentável. Além
disso, falta incentivo do governo, que poderia ser isenção de
impostos, para dar outro estímulo aos pequenos empreendimentos",
analisa a arquiteta. Nem ela mesma tinha ideia do poder transformador
da sustentabilidade.
Fonte: Estado de Minas Online

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