Em entrevista ao Procel Info, o pesquisador da Eletrobras Cepel, Ricardo Ficara fala sobre luminárias eficientes

 

Rio de Janeiro - Em um projeto de Conservação de Energia há tantos fatores envolvidos que talvez pensar nas luminárias possa parecer algo irrelevante, porém engana-se quem pensa dessa forma. A iluminação é o terceiro maior uso final de energia elétrica no Brasil e possui alto potencial de economia de energia, devido a projetos ultrapassados, equipamentos obsoletos e más práticas. O uso de equipamentos corretos é peça-chave para um melhor resultado.

No Brasil, é impossível não destacar o trabalho de excelência que o Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Eletrobras Cepel) faz na elaboração do padrão técnico de luminárias para o país. Com um conhecimento adquirido através de anos de pesquisas laboratoriais o Cepel é referência no assunto tendo ajudado o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Eletrobras Procel) e o Programa Nacional de Iluminação Eficiente (Reluz). Confira abaixo a entrevista com os pesquisadores Ricardo Ficara e Alexandre Neves da Silva que aborda a importância de luminárias eficientes, tipos de lâmpadas, materiais e sistemas que podem fazer uma grande diferença no sucesso de um projeto.

 

Procel Info - Existem vários tipos de luminárias, mas nem todas são eficientes, o que faz um objeto merecer esse título?

Basicamente, qualquer fonte luminosa, que tem sua distribuição da luz controlada, pode ser considerada como uma luminária. De um modo geral a eficiência energética de uma luminária é a razão entre a quantidade de luz emitida por ela, pelo consumo de energia elétrica empregada para seu funcionamento. Logo, a luminária para receber esse título, precisa ser testada em um laboratório de iluminação certificado. Submetida a ensaios e medições elétricas e fotométricas (medição de parâmetros da luz) devem atingir os níveis mínimos de eficiência estabelecidos em normas e regulamentos técnicos ou pelos programas de governo como, por exemplo, a Eletrobras Procel e o PBE, Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro.

Procel Info - As luminárias, como sabemos, são equipamentos que recebem as lâmpadas e modificam a distribuição do seu fluxo luminoso. Elas são compostas de diversas partes como, receptáculo, refletores, refratores, difusores, colmeias entre outros. Existe algum estudo mostrando que algum componente da luminária, quando melhor utilizado pode potencializar sua qualidade?

Basicamente, todas as partes de uma luminária, bem como o próprio projeto, podem influenciar na qualidade final do equipamento. Entretanto, considerando-se apenas as partes inerentes à luminária, estudos e medições realizados em laboratórios apontam o conjunto óptico (dispositivo que modifica a distribuição do fluxo luminoso) como o de maior relevância. O aproveitamento da luz emitida pela lâmpada e a distribuição luminosa dependem diretamente da qualidade dos materiais empregados nestas partes.

Procel Info - O quanto um receptáculo pode melhorar e potencializar o fluxo luminoso difundido?

De um modo geral, um receptáculo (dispositivo que conecta eletricamente a lâmpada a luminária) bem construído e que atenda as normas técnicas aplicáveis, não influi diretamente no fluxo luminoso da luminária. Evita o mau funcionamento do conjunto, garante bom contato elétrico com os terminais da lâmpada, assegura o acendimento correto e evita o apagamento durante a operação da lâmpada.

Procel Info - Algumas luminárias possuem bases e hastes fixas ou são simplesmente embutidas no teto. Existe alguma forma de aproveitar um ângulo que melhore a difusão da luz? Há alguma dica para instalação?

O que determina o modo adequado de fixação, a altura de montagem e a distribuição das luminárias no teto ou em outras superfícies, é o projeto de iluminação e dependendo de sua complexidade, deve ser realizado por especialista na área. Assim sendo, normalmente o melhor posicionamento é observado nesta ocasião.

Procel Info - A qualidade e o valor da fração de emissão de luz de uma luminária dependem muito dos materiais empregados em sua construção. Em sua opinião, quais são os melhores materiais a serem utilizadas e por quê?

Embora existam luminárias de diversas tecnologias para atender os mais variados campos de aplicação neste segmento, de um modo geral, devem ser empregados materiais que tenham suas especificações comprovadas por órgãos certificadores e que se mantenham estáveis durante a vida proposta da luminária.

Procel Info - Em uma luminária encontramos reatores, que provocam um aumento de tensão durante a ignição e uma redução na intensidade da corrente durante o funcionamento da lâmpada. Eles existem em duas formas: eletromagnéticos e eletrônicos. Atualmente, qual o mais indicado e por quê?

De um modo geral, os reatores eletrônicos são mais indicados, pois apresentam menores perdas elétricas, melhor fator de potência e permitem, quando aplicável, dimerização (variação do nível de luminosidade) das lâmpadas.

Procel Info - Para locais onde há ocupação intermitente o custo de instalar um sensor de presença (que detecta a entrada e saída de indivíduos do local e liga/desliga a iluminação automaticamente) se justifica? Ele pode prolongar a vida útil do sistema como um todo?

Sim, desde que seja evitado uso de lâmpadas fluorescentes em situações aonde são realizadas muitas operações de liga-desliga ao dia. Nestas condições de operação as lâmpadas sofrerão redução da sua vida útil.

Procel Info - Nos projetos de edifícios e construções sustentáveis é quase unanimidade o uso do sistema por controle fotoelétrico, que possui sensores que identificam a presença de luz natural e fazem a redução ou desligamento da artificial por meio de dimmers. Essa é realmente a nova tendência a ser explorada nos projetos de arquitetura e engenharia?

Sim, o aproveitamento da luz natural além da redução no consumo de energia elétrica diminui também os custos na manutenção dos sistemas de iluminação. Em muitos projetos melhora também a ambiência destes espaços.

Procel Info - O grande destaque da indústria hoje são as luminárias com lâmpadas de LED. Muitos afirmam que o seu custo x benefício ainda é inferior as que usam lâmpadas fluorescentes. Isso é verdade?

De um modo geral esta condição ainda persiste, entretanto, em algumas situações a maior durabilidade, os ganhos oriundos pela redução do consumo de energia elétrica ao longo da vida útil, atenuação da carga térmica nos ambientes refrigerados, maior disponibilidade de soluções em projetos de decoração e arquitetônicos, podem tornar o custo-benefício favorável aos LEDs. Portanto, é preciso avaliar o custo-benefício em cada projeto luminotécnico.

Procel Info - Como o CEPEL tem colaborado para a introdução no mercado brasileiro das luminárias eficientes?

O Cepel tem trabalhado de forma estreita com a Eletrobras Procel e o Inmetro, e vem realizando estudos das tecnologias, medições fotométricas e do desempenho de luminárias públicas com lâmpadas de descarga e a leds. Estes trabalhos visam estabelecer os critérios para avaliação das luminárias, a fim de qualificá-las por níveis de eficiência.

 

*Ricardo ficara, 60 anos, engenheiro eletricista formado em 1983. Atua desde 1995 no Laboratório da Eletrobras Cepel. Participou do projeto, das especificações e aquisição dos equipamentos e sistemas de medição para adequação do laboratório de Iluminação a trabalhos de pesquisas e desenvolvimento no segmento de iluminação. Responsável pelo Laboratório de Iluminação do Cepel atua como suporte técnico aos Programas de Etiquetagem e do Selo Procel Eletrobras.

Fonte: Luiz Henrique Galerani, para o Procel Info

 

 

 

 

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