Paróquia do Rio será a primeira do Brasil a gerar a sua própria energia

Seguindo orientação do Papa Francisco, Igreja de São José da Lagoa instala painéis solares para se tornar mais sustentável

Rio de Janeiro - A preocupação com as mudanças climáticas e o aquecimento global tem ocupado grande espaço nas discussões da comunidade internacional. Líderes políticos, religiosos e ambientalistas alertam constantemente sobre os riscos que o planeta corre caso não sejam implementadas rapidamente práticas mais sustentáveis de desenvolvimento. Dentro deste contexto, o Papa Francisco publicou, em setembro do ano passado, o documento "Laudato Si (Louvado Sejas, em italiano medieval) - Sobre o cuidado da casa comum". Conhecida como Encíclica Verde, as 192 páginas da publicação, apresentam uma série de recomendações voltadas para as questões socioambientais. Dirigido, não só para os seguidores da Igreja Católica, mas para toda a população mundial, a encíclica apresenta alternativas para um desenvolvimento sustentável, no qual o progresso econômico e tecnológico devem caminhar lado a lado com a preservação da natureza e dos recursos naturais.

Entre os pontos abordados no documento está a questão do uso e produção da energia elétrica. O texto afirma, que o desenvolvimento de formas menos poluentes de produção de energia, bem como o seu uso de forma eficiente deve ser apoiado. "O aproveitamento direto da energia solar, tão abundante, exige que se estabeleçam mecanismos e subsídios tais, que os países em vias de desenvolvimento possam ter acesso à transferência de tecnologias, assistência técnica e recursos financeiros, mas sempre prestando atenção às condições concretas, pois, nem sempre se avalia adequadamente a compatibilidade dos sistemas com o contexto para o qual são projetados.[.] Ao mesmo tempo, porém, em nível nacional e local, há sempre muito que fazer, como, por exemplo, promover formas de economia de energia. Isto implica favorecer modalidades de produção industrial com a máxima eficiência energética e menor utilização de matérias-primas, retirando do mercado os produtos pouco eficazes do ponto de vista energético ou mais poluentes", diz trecho do documento do Papa.

Seguindo essas orientações, a Paróquia de São José da Lagoa, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, está prestes a se tornar a primeira igreja do Brasil a gerar a sua própria energia. Por meio de uma parceria entre a Arquidiocese do Rio, Casaleve (ex-Solar Grid), Furnas Centrais Elétricas e Instituto-E, foi elaborado um projeto para a instalação de 56 painéis fotovoltaicos para a produção de energia elétrica. Ao todo, esse sistema vai gerar 1.700 kWh/mês, o equivalente a 40% do consumo do local. Quando houver uma produção maior que o consumo, o excedente será doado para o monumento do Cristo Redentor.

"A importância de um projeto desse, na Paróquia São José da Lagoa, é evidenciar que estamos adequados ao desejo do Papa Francisco, a partir da sua Encíclica Verde, Laudato Si, conceito de sustentabilidade e aproveitamento da energia solar e, ao mesmo tempo, de um pensamento que deve se ampliar a tantas outras igrejas", comenta o padre Omar Raposo, pároco da igreja.

O projeto, elaborado pela Casaleve e o Instituto-E, vai proporcionar uma economia de cerca de R$ 20 mil por ano na conta de energia. As placas, que estão sendo instaladas no telhado da igreja, terão o formato de uma cruz e poderá ser visto do alto do Morro do Corcovado, onde fica a estátua do Cristo Redentor.

"A parceria foi além de gerar energia: geramos consciência sustentável. Além da simplificar o processo para a igreja, assumindo todo o projeto, mostramos que o sistema de energia solar tem potencial para entregar mais do que descontos na conta de energia: entrega educação e engajamento da comunidade para as questões sustentáveis", explica o CEO da Casaleve, Bruno de Paoli.

A instalação de todas as placas deve ser concluído até o dia dez de junho. Após esse período serão necessários mais 15 dias para vistoria e troca de medidor. A previsão é que em meados de julho a igreja possa começar a produzir a sua própria energia. A expectativa é que o valor do investimento, que não foi revelado pela igreja, seja recuperado em até seis anos.
Sistema de energia solar será suficiente para fornecer 40% de toda a demanda da igreja. Nos horários em que a produção for maior que o consumo, o excedente será doado para o Cristo Redentor

Além da energia solar, ainda está em estudo a implementação de um projeto mais amplo com foco na eficiência energética de todas as instalações da igreja. Segundo Paoli, mudanças de hábitos e melhorias nos sistemas de ar-condicionado e iluminação estão entre os pontos que podem ser otimizados.

"O mais interessante é que, na medida em que o consumo é mais eficiente, a participação do sistema de energia solar aumenta na mesma proporção. Inclusive já existe a previsão de redução do consumo para um patamar onde em alguns momentos a igreja irá gerar mais energia do que consumir. Este eventual excedente injetado na rede da Light vai ser utilizado como crédito para reduzir outra conta que está em nome da arquidiocese do Rio: a do Cristo Redentor" revela de Bruno Paoli.

Padre Omar lembra que a iniciativa, pioneira no país, pode servir de estímulo para outras paróquias do Brasil. Ele destaca que o projeto também tem o objetivo de evangelizar, mostrando a toda a comunidade paroquial que é possível unir a fé com a responsabilidade socioambiental.

"Hoje, nós somos precursores na cidade do Rio de Janeiro com essa iniciativa e, certamente, tantas outras igrejas irão optar por um projeto de suficiência energética adequado aos parâmetros fundamentados sobre a encíclica e o desejo do Papa Francisco. É a tecnologia a serviço do meio ambiente e da fé", finaliza o Padre Omar.

Fonte:Tiago Reis, para o Procel Info

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